Quimioterapia Intraperitoneal Hipertérmica
Índice
Introdução
O peritônio é uma membrana serosa, que recobre tanto a parede abdominal quanto as vísceras. Possui duas camadas: parietal e visceral. A parietal recobre as paredes abdominais e a superfície inferior do diafragma, enquanto a visceral recobre boa parte das vísceras, formando uma cobertura completa para algumas delas (estômago, baço, etc.) e incompleta para outras (bexiga, reto, etc.).
A doença metastática peritoneal, identificada pela presença de diversos nódulos neoplásicos disseminados pelo peritônio parietal e visceral, é chamada de carcinomatose nos tumores de origem epitelial endodérmico e sarcomatose nos tumores de origem mesenquimal.
Definição do Procedimento
Trata- se de um procedimento usado em oncologia baseado na tríade de citorredução, calor e quimioterapia regional. A citorredução por si só tem importante papel na ação dos quimioterápicos, por diminuir a população de células neoplásicas e, principalmente, sua fração não proliferativa.
A cirurgia citorredutora consiste na remoção de implantes peritoneais e, se necessário, órgãos e ou estruturas não vitais, para atingir citorredução ótima.
Terminada a citorredução, passa-se à fase da perfusão intraperitoneal contínua com quimioterapia hipertérmica. Um cateter de infusão é inserido através da parede abdominal e tem suas extremidades posicionadas nos espaços subdiafragmáticos direito e esquerdo, no mesogástrio e na cavidade pélvica. Para controle de temperatura, são usados termômetros inseridos através da parede e posicionados na cavidade abdominal.
Os cateteres são conectados a uma máquina de circulação extracorpórea, que introduz e faz a sucção da solução. Um trocador de calor acoplado ao sistema mantém a solução de quimioterápico a ser infundida entre 43ºC e 44ºC, de modo que na cavidade peritoneal a temperatura é mantida entre 41ºC e 42ºC, e a perfusão é mantida por 90 minutos. Terminada a fase de perfusão, aspira-se a solução e a cavidade é lavada com soro fisiológico. [1]
A função de aquecer a quimioterapia (hipertermia) teoricamente é deixar as células neoplásicas mais permeáveis aos quimioterápicos, potencializando a citotoxicidade de alguns deles.
Cobertura no SUS
- Para Câncer de Ovário: A Portaria SAS 458 de 21 de Maio de 2012 que aprova as diretrizes diagnósticas e terapêuticas para neoplasia maligna epitelial de ovário, coloca como opção terapêutica para câncer de ovário a quimioterapia intraperitoneal, porém não cita a quimioterapia intraperitoneal hipertérmica.[2] Assim, esta última, não é padronizada no SUS para o tratamento desta neoplasia.
O código a ser cobrado para a quimioterapia intraperitoneal é o 03.04.08.006-3 - Quimioterapia Intracavitária.
- Para Câncer Colorretal: A Portaria SAS 958 de 26 de Setembro de 2014 que aprova as diretrizes diagnósticas e terapêuticas do câncer de cólon e reto, coloca como opção terapêutica para câncer colorretal a quimioterapia intraperitoneal, porém não cita a quimioterapia intraperitoneal hipertérmica. [3] Assim, esta última, não é padronizada no SUS para o tratamento desta neoplasia.
O código a ser cobrado para a quimioterapia intraperitoneal é o 03.04.08.006-3 - Quimioterapia Intracavitária.
Evidência Científica sobre Quimioterapia Intraperitoneal Hipertérmica
- Para Câncer de Ovário: até recentemente, a quimioterapia intraperitoneal (IP) era considerada fortemente como regime padrão para pacientes jovens submetidas a citorredução ótima, porém, a apresentação do estudo GOG252 no Congresso Anual da Sociedade Americana de Oncologia Ginecológica em 2016 comparou diretamente a quimioterapia IP com quimioterapia endovenosa e não demonstrou diferenças na sobrevida livre de progressão entre os braços (maior toxicidade nos braços da quimioterapia intraperitoneal).[4]
A quimioterapia intraperitoenal hipertérmica ainda precisa ser validada em estudos prospectivos e randomizados. Os estudos publicados em geral são com limitado número de pacientes, fase II e/ou sem randomização.[5] [6] [7] [8]
- Para Câncer de Cólon: O tratamento combinado para carcinomatose peritoneal está relativamente bem definido na literatura.[9]
https://mocbrasil.com/moc-tumores-solidos/cancer-ginecologico/15-ovario-epitelial/ Estudo de fase III holandês com 105 pacientes apresentando envolvimento peritoneal comparou quimioterapia endovenosa versus quimioterapia endovenosa combinada com cirurgia de citorredução e quimioterapia hipertérmica intraperitoneal com mitomicina C. O estudo demonstrou aumento de sobrevida global de 22,3 versus 12,6 meses, isto significa de maneira simplificada que os pacientes submetidos ao tratamento com quimioterapia intraperitoneal hipertérmica viveram 10 meses a mais.[10] Vários estudos retrospectivos com cirurgia citorredutora e quimioterapia hipertérmica corroboram o potencial curativo dessa estratégia, que é globalmente da ordem de 10 a 20%.[11] [12] Erro de citação: </ref>
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A Sociedade Americana de Malignidades da Superfície Peritoenal reportou análise retrospectiva de 539 pacientes submetidos à citorredução e quimioterapia intraperitoneal hipertérmica com mitomicina C ou oxaliplatina, estratificados por escore de severidade de comprometimento peritoneal. A avaliação mostrou maior benefício de sobrevida global no grupo de menor comprometimento peritoneal e histologias mais favoráveis que usou mitomicina C.Erro de citação: </ref>
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, que findou recrutamento de 280 pacientes randomizados para citorredução isolada versus citorredução associada com quimioterapia intraperitoenal hipertérmica, responderá de modo definitivo à questão do papel da quimioterapia intraperitoenal hipertérmica no câncer colorretal.
É importante ressaltar que essa cirurgia apresenta morbidade alta e mortalidade da ordem de 4%.
Resumo
- Quimioterapia intraperitoenal hipertérmica não está padronizada no SUS.
- Não há evidência científica suficiente para padronizar seu uso no tratamento do câncer de ovário.
- Parece haver benefício com o uso da quimioterapia intraperitoenal hipertérmica em carcinomatose peritonenal de câncer de colon e os dados mais fortes são com o quimioterápico mitomicina C. A oxaliplatina, outro quimioterápico, pode ser usado se houver contra-indicação para o uso da oxaliplatina.
Referências
<references>- ↑ Cirurgia citorredutora associada a quimioterapia intraperitoneal hipertérmica (QtIPH) no tratamento da carcinomatose peritoneal. Lopes, A.26-35 Onco& Julho 2011
- ↑ Portaria 458 de 21 de Maio de 2012
- ↑ [conitec.gov.br/images/Artigos_Publicacoes/ddt_Colorretal__26092014.pdf Portaria SAS 958 de 26 de Setembro de 2014]
- ↑ Manual de Oncologia Clínica do Brasil – Tumores Sólidos 2016. Capítulo 15 https://mocbrasil.com/moc-tumores-solidos/cancer-ginecologico/15-ovario-epitelial/
- ↑ Cytoreductive surgery and hyperthermic intraperitoneal chemotherapy as upfront therapy for advanced epithelial ovarian câncer: multi-institutional phase-II trial. Gynecol Oncol 122:215, 2011.
- ↑ Evaluation of extensive cytoreductive surgery and hyperthermic intraperitoenal chemotherapy (HIPEC) in patients with advanced epithelial ovarian cancer. Int J Gynecol Cancer 22:778, 2012]
- ↑ Cytoreduction and hyperthermic intraperitoneal chemoperfusion in women with heavily pretreated recurrent ovarian cancer. Ann Surg Oncol 19:2352, 2012
- ↑ Peritoneal carcinomatosis treated with cytoreductive surgery and hyperthermic intraperitoenal chemotherapy (HIPEC) for advanced ovarian carcinoma: a French multicentre retrospective cohort study of 566 patients. Eur J Surg Oncol 39:1435, 2013.
- ↑ Manual de Oncologia Clínica do Brasil – Tumores Sólidos 2016. Capítulo 15
- ↑ Randomized Trial of cytoreduction and hyperthermic intraperitoneal chemotherapy versus systemic chemotherapy and palliative surgery in patients with peritoneal carcinomatosis of colorectal cancer. J Clin Oncol 21:3737, 2003
- ↑ Cytoreductive surgery combined with perioperative intraperitoneal chemotherapy for the management of peritoneal carcinomatosis from colorectal cancer:a multi-institutional study. J Clin Oncol 22:3284, 2004.
- ↑ Complete Cytoreductive Surgery Plus Intraperitoneal Chemohyperthermia With Oxaliplatin for Peritoneal Carcinomatosis of Colorectal Origin. J Clin Oncol 27:681, 2009.