Curativos

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Feridas Crônicas

As feridas crônicas distinguem-se por não seguirem o processo dinâmico e fisiológico da cicatrização, resultando numa descoordenação multi-sequencial que perturba a recuperação da integridade anatômica e funcional no intervalo de tempo normal (6 semanas). O diagnóstico diferencial das feridas crônicas é amplo, destacando-se como principais causas, a insuficiência venosas crônica dos membros inferiores, as alterações vasculares e neuropáticas periféricas associadas à Diabetes mellitus e as úlceras relacionadas com mecanismos de pressão.

Cicatrização

Deve-se frisar que, para a resolução de uma ferida o organismo e a área cruenta devem ter condições favoráveis. As condições clínicas desfavoráveis devem ser sanadas ou melhoradas para que se possa facilitar e acelerar a evolução natural do processo de cicatrização da ferida. Os distúrbios sistêmicos estão relacionados com as condições gerais do individuo, que influenciam no tempo e na qualidade da cicatrização. Dentre outros fatores que influenciam no processo de cicatrização, destacamos a idade do indivíduo, a obesidade, oxigenação do local da ferida (irrigação sanguinea), efeitos adversos de outros medicamentos, tabagismo, estresse/ansiedade e o estado nutricional.

Avaliação da ferida influencia diretamente na escolha do curativo

Avaliar e documentar a evolução da ferida é imprescindível para se determinar o tratamento apropriado para cada caso. Esta avaliação e documentação deve ser realizada de forma sistemática, desde a ocorrência da lesão até sua completa resolução.

Conforme extensa literatura disponível sobre feridas, como o processo cicatricial evolui constantemente, certos curativos podem deixar de ser a melhor indicação após alguns dias. O acompanhamento adequado é fundamental e deve ser feito por pessoa capacitada. Além disso, os pacientes podem reagir de forma totalmente diferente, mesmo apresentando feridas semelhantes.

O profissional de saúde, capacitado, deve acompanhar com precisão as alterações da ferida a fim de tomar decisão de tratamento baseado nas condições avaliadas.

O que o médico deve informar ao solicitar curativo

- elaboração de um histórico detalhado do quadro clínico do paciente: descrevendo a data de início da ferida, evolução, tratamentos já realizados;

- exame subjetivo:

- medições da ferida: local, tamanho e profundidade;

- características do leito da ferida: tais como tecido necrótico, tecido de granulação ou infecção;

- condição da pele periférica: normal, edemaciada, esbranquiçada, brilhante, morna, vermelha, seca, escamando, fina;

- Drenagem, tipo da secreção:

  • serosa: clara, hialina
  • sanguinolenta: secreção averemelhada
  • purulenta: secreção espessa, é o resultado de leucócitos e micro-organismos vivos ou mortos, apresentando coloração que pode variar entre amarelo, verde ou marrom de acordo com o agente infeccioso;

- Quantidade da secreção: baixo, moderado, alto;

- Coloração da ferida:

  • vermelho: tecido de granulação
  • amarelo: há grande quantidade de material fibrótico e outros componentes oriundos da degradação célula;

- Odor;

- Consistência;

- temperatura local;

- Circunferência do membro;

- queixas de dor no local.

Curativos e Coberturas

A cobertura a ser utilizada deve ser biocompatível, proteger a ferida das ações externas físicas, químicas e bacterianas, manter o leito da ferida continuamente úmido e a pele ao redor seca, eliminar e controlar exsudatos e tecido necrótico mediante sua absorção, deixar uma mínima quantidade de resíduos na lesão, ser adaptável a difíceis localizações e ser de fácil aplicação e retirada.

Cada ferida deve ser avaliada individualmente, conforme sua causa, evolução, estado atual, e o curativo a ser escolhido deve ser compatível com a situação apresentada, e reavaliado conforme a evolução de cada caso, por profissional habilitado. Também, fatores como dor local, causa da ferida, doenças associadas no indivíduo, presença ou não de infecção local, devem ser avaliadas de forma simultânea, favorecendo a boa evolução do tratamento da ferida.

Além de considerar os fatores individuais de cada paciente, deve se considerar o custo x benefício do tratamento, e condições disponíveis para que o tratamento seja efetivamente realizado e orientações de cuidados domiciliares. Existem atualmente no mercado inúmeras coberturas e curativos com essa finalidade, cada um com suas características que atuam mais em certos aspectos da ferida.

Após a limpeza do ferimento, o profissional de saúde habilitado o cobre com um novo curativo. A maioria dos ferimentos é mantida úmida, por exemplo, com compressas úmidas. Mas os seguintes tipos de curativos podem ser usados: como filmes, gazes, curativos de hidrogel, curativos hidrocolóides, curativos contendo prata ou alginatos e curativos de espuma.

Os curativos são usados ​​para remover o excesso de fluido da ferida e protegê-la de infecções, propiciando/facilitando a reepitelização e cicatricação. Geralmente, permanecem na ferida por vários dias. Os curativos devem ser trocados se ficar claro que não conseguem absorver mais secreções da ferida, em caso de sujidade, e se escorregarem ou se houver vazamento de fluido da bandagem. Não está claro se certos tipos de curativos são melhores do que outros.

Seguem algumas opções de curativos ou produtos de uso tópico para feridas:


  • ÁCIDOS GRAXOS ESSENCIAIS – AGE

Óleo vegetal composto por ácido linoleico, caprílico, cáprico, caproico, vitaminas A, E, e lecitina de soja. É indicado tanto na proteção da pele íntegra quanto no tratamento das úlceras de pressão e de membros inferiores, mantêm o meio úmido e acelera o processo de granulação.

Frequência de troca:

- É recomendada de 12 a 24 horas e pode ser associado a diversos tipos de coberturas.


  • CURATIVO COM ALGINATO DE CÁLCIO

É um curativo altamente absorvente composto de alginato de cálcio e carboximetilcelulose sódica. No contato com o exsudato da ferida, o curativo se torna um gel macio e coeso, promovendo a otimização do meio ambiente úmido. O gel formado permite a remoção íntegra do curativo, não deixando resíduos no leito da ferida. Tem propriedades hemostáticas e facilita o desbridamento autolítico, promovendo a predominância e estimulação do tecido de granulação.

Indicações:

-Feridas de moderada a altamente exsudativas, de qualquer etiologia; -Feridas Oncológicas; -Feridas Sangrantes; -Feridas recém desbridadas cirúrgicas.

Freqüência de troca:

- Para feridas infectadas, efetuar a troca, no máximo, a cada 24 horas ou de acordo com a orientação do profissional de saúde.


  • ALGINATO DE CÁLCIO COM HIDROPOLÍMERO

Indicação:

- Feridas limpas, em fase de granulação, com média e pequena quantidade de exsudato.

Freqüência de troca:

- Em média 48 horas


  • BOTA DE UNNA

Bandagem de compressão não-elástica impregnada com pasta à base de óxido de zinco, goma acácia, glicerol, óleo de rícino e água deionizada. Exerce força de contensão no membro acometido durante deambulação, aumentando o retorno venoso. Promove fibrinólise e aumenta a pressão intersticial local.

Indicação:

- Tratamento ambulatorial e domiciliar de úlceras venosas de perna e edema linfático.

Contra – indicação:

- Úlceras arteriais

- Úlceras arteriovenosas;

- Presença de infecção ou miíase.

Frequência de Troca:

- Semanal


  • CARVÃO ATIVADO COM PRATA RECORTÁVEL

É uma cobertura estéril, recortável, composto de tecido de carvão ativado impregnado com 25 µg/cm2 de prata prensada por duas camadas de rayon/nylon. O tecido de carvão adsorve os gases voláteis, responsáveis pelo mau cheiro e os microorganismos produtores dessa substância. A prata impregnada no tecido de carvão exerce efeito bactericida sobre os microorganismos auxiliando no controle de infecção da ferida. Realiza desbridamento autolitico.

Indicação:

- Feridas com moderada a intensa exsudação, infectadas ou não, com ou sem odor.


  • COLAGENASE

É uma pomada à base de uma enzima chamada de colagenase obtida a partir de culturas do Clostridium histolyticum . É um agente desbridante enzimático.Promove o preparo do leito da ferida através da limpeza enzimática das áreas com tecido não viável para cicatrização.


  • ESPUMA DE POLIURETANO IMPREGNADA COM ÍONS DE PRATA

É uma espuma de poliuretano absorvente e de retenção não adesivo. É macia e flexível, com um complexo de prata que se dispersa homogeneamente em toda a matriz de espuma. Na presença de exsudatos, a prata é liberada continuamente no leito da ferida por até 7 dias. Se adapta totalmente ao leito da ferida proporcionando absorção superior mesmo sob compressão.

Indicação: -Feridas de moderada a intensa exsudação e feridas estagnadas.

- Queimadura de 2º grau.

- Feridas Crônicas infectadas ou com biofilme.


  • FILME ADESIVO TRANSPARENTE

Filme de poliuretano, transparente, elástico, semipermeável, aderente a superfícies secas. Proporciona ambiente úmido, favorável a cicatrização; Possui permeabilidade seletiva, permitindo a difusão gasosa e evaporação de água; Impermeável a fluidos e microorganismos.

Indicação:

- Fixação de cateteres vasculares (quando apresentação estéril do filme adesivo);

- Proteção de pele íntegra;

- Prevenção de ulcera de pressão;

- Cobertura de incisões cirúrgicas limpas com pouco ou nenhum exsudato.


  • GAZE NÃO ADERENTE

Gaze embebida em produto lubrificante, que facilita a troca e não adesão do curativo à ferida.

Indicações

- Queimaduras superficiais de segundo grau.

- Áreas cruentas pós-trauma ou ressecção cirúrgica.

- Feridas com formação de tecido de granulação.

- Áreas doadoras e receptoras de enxertos dermo-cutâneos.

Contra-indicação

Na ferida que apresenta secreção purulenta.

Frequência de Troca:

A cada 24 horas.


  • HIDROCOLÓIDE PLACA

Curativo à base de Carboximetilcelulose, e/ou pectina e/ou gelatina. Quando o curativo entra em contato com o exsudado da ferida, a camada hidrocolóide forma um gel coesivo, proporcionando um ambiente de cicatrização úmido. O filme de poliuretano é impermeável à água, bactérias e contaminação externa.

Indicação:

- Prevenção e tratamento de feridas abertas não infectadas.

Tipos de Feridas:

- Feridas abertas não infectadas, com leve a moderada exsudação;

- Prevenção ou tratamento de úlceras de pressão não infectadas.

Contra - indicação:

- Feridas infectadas;

- Feridas com tecido desvitalizado e queimaduras de 3º grau

Frequência de Troca:

- Trocar o hidrocolóide sempre que o gel extravasar ou o curativo descolar ou no máximo a cada 7 dias .A interação do hidrocolóide produz um gel amarelo (semelhante à secreção purulenta) e nas primeiras trocas poderá ocorrer um odor desagradável devido à remoção de tecidos desvitalizados.


  • HIDROGEL

Gel transparente, incolor, hidroativo, amorfo, composto de água purificada, carboximetilcelulose e alginato de sódio. Hidrogel amorfo e transparente (promovendo acesso visual da ferida) estéril composto por polímero de amido modificado, glicerol e água purificada, com capacidade de doação de umidade e realizar o debridamento autolitico.

Indicação:

- Remover crosta e tecidos desvitalizados de feridas abertas.

Tipos de Feridas:

- Feridas com crostas, fibrinas, tecidos desvitalizados e necrosados.

Contra - indicação:

- Utilizar em pele íntegra e incisões cirúrgicas fechadas.

Frequência de Troca:

- Feridas infectadas: no máximo a cada 24 horas ou de acordo com a saturação da cobertura secundária.


  • HIDROFIBRA

Fibras 100% carboximeticelulose sódica. As fibras de carboximeticelulose sódica retém o exsudato da ferida e o convertem em um gel translúcido, podendo absorver até 25 vezes do seu peso em fluidos; Cria assim um ambiente úmido ideal para a cicatrização; Favorece o desbridamento autolítico. A hidrofibra associada a Prata tem ação antimicrobiana sobre a superfície da ferida, prevenindo assim a colonização dentro do curativo.

Indicação:

- Tratamento de feridas com exsudato abundante com ou sem infecção;

- Feridas Cavitárias e sanguinolentas.

Tipos de Feridas:

- Úlceras por pressão;

- Úlceras de Pé diabético;

- Úlceras venosas de perna.

Contra - indicação:

- Em indivíduos sensíveis ao produto.

Frequência de Troca:

- A medida que a hidrofibra for soltando, deve-se ir cortando as bordas soltas;

- Quando a hidrofibra perder sua aderência, também deve ser trocada;

- A cobertura secundária deve ser trocada diariamente, para avaliação da saturação da hidrofibra;

- A hidrofibra pura pode permanecer por até 07 dias na lesão;

- A hidrofibra associada a Prata pode permanecer até 14 dias na lesão.


  • SULFADIAZINA DE PRATA

A sulfadiazina de Prata a 1% hidrofílica, é um fármaco, com efeito, bacteriostático, derivado das sulfamidas de uso tópico. Seus íons de prata causam precipitação de proteínas e agem diretamente na membrana citoplasmática da célula bacteriana, exercendo ação bacteriana imediata e ação bacteriostática residual pela liberação de pequenas quantidades de prata iônica.

Indicação:

- Prevenção de colonização e tratamento da ferida queimada.

Contra – indicação:

- Hipersensibilidade ao produto.

Frequência de Troca:

- No máximo a cada 12 horas ou quando a cobertura secundária estiver saturada.

- Retirar o excesso de pomada remanescente a cada troca de curativo.

Referência

Apostila sobre curativos – Maria Genilde das Chagas Araújo Campos (2012) Disponível em: http://xa.yimg.com/kq/groups/25027304/2009970216/name/CARTILHA+PSF%5B1%5D+PDF.pdf

Anais Brasileiro de Dermatologia 2009 – Aspectos celulares da cicatrização – Ricardo José Mendonça, Joaquim Coutinho Netto. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0365-05962009000300007&script=sci_arttext

Rev. da SPDV 69 (3) 2011. Educação médica continuada – Cicatrização de feridas. André Laureano, Ana Maria Rodrigues. Disponível em: http://revista.spdv.com.pt/index.php/spdv/article/viewFile/71/91

Propedêutica do Processo de cuidar na Saúde do Adulto – Fisiologia da Cicatrização – Prof Daniele Domingues. Disponível em: http://adm.online.unip.br/img_ead_dp/37734.PDF

Rev. Médica (São Paulo) 20101 julho-dezembro. Processo de Cura das Feridas: Cicatrização Fisiológica. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/revistadc/article/view/46294/49950

Rev. Brasileira de Cirurgia Plástica: Sistematização de curativos para o tratamento clínico das feridas. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbcp/v27n4/26.pdf http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1983-51752012000400026&script=sci_arttext

Dissertação de Mestrado- UFRS – Curativos para tratamento de deiscência de feridas operatórias abdominais: uma revisão sistemática. Disponível em: http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/37232/000821097.pdf?...1

Caderno de enfermagem em ortopedia: Curativos orientações básicas. Ministerio da saúde, maio 2006. Disponível em: https://pt.scribd.com/doc/38100663/CADERNO-DE-ENFERMAGEM-EM-ORTOPEDIA-CURATIVOS-E-ORIENTACOES-BASICAS

Revista do Colégio Brasileiro de Cirurgiões - Feridas cutâneas: a escolha do curativo adequado. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0100-69912008000300013&script=sci_arttext

Curativos Secretaria Saúde Distrito Federal. Disponível em https://www.saude.df.gov.br/documents/37101/0/Indica%C3%A7%C3%A3o+dos+Curativos.pdf/3453272e-d30a-dd41-c483-0753720bb61c?t=1664212831951

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK326436/#i2706.behandlung-ko.whatarethepainmanage