Mudanças entre as edições de "Monitorização Neurofisiológica Intra-Operatória"

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(Introdução)
 
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== Introdução ==
  
== '''A Monitorização Neurofisiológica Intra-Operatória:''' ==
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Os tumores cerebrais se referem a uma coleção diversificada de neoplasias originárias de diferentes conjuntos de células do próprio cérebro (tumores primários), embora também possam ser oriundos de metástases de outros tumores sistêmicos.
  
A Monitorização Neurofisiológica Intra-Operatória é a utilização de várias técnicas de Neurofisiologia Clínica (como Potenciais Evocados, Eletroneuromiografia e Eletroencefalografia) para oferecer informações em tempo real sobre o funcionamento do Sistema Nervoso durante um procedimento cirúrgico. Ela tem como objetivo identificar o funcionamento inadequado do Sistema Nervoso no decorrer de uma cirurgia, muitas vezes permitindo ações que retornem esta função ao normal.  
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Os tumores cerebrais primários incluem vários tipos histológicos diferentes, com características macroscópicas e moleculares variadas, e são classificados com base em uma lista de tumores do sistema nervoso central (SNC) definida pela Organização Mundial da Saúde.
  
A MNIO ajuda a melhorar os desfechos cirúrgicos pela avaliação cuidadosa da função do tecido neuronal, incluindo as vias corticais e subcorticais (eloquentes e não eloquentes), tratos medulares e nervos periféricos. As técnicas neurofisiológicas empregadas permitem o mapeamento (identificação) e monitoramento das estruturas em risco.
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Entre 5 e 10% de todos os tumores intracranianos estão localizados no ângulo ponto-cerebelar (APC). Os tumores de ângulo pontocerebelar (TAPC) mais comuns são Schwannoma vestibular (SV), meningioma e tumores epidermoides.  
A informação neurofisiológica ajuda o cirurgião a realizar procedimentos de modo mais seguro. Por este motivo, é importante que o Neurofisiologista tenha experiência neste tipo de procedimento, e que trabalhe de modo coeso com a equipe cirúrgica, alertando os demais colegas sobre os dados neurofisiológicos obtidos.
 
  
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O SV é responsável por 75 a 85% de todos os tumores; os meningiomas representam até 10 a 15%, enquanto os epidermoides representam 7 a 8% de todos os tumores. Outros tumores menos comuns, que contribuem aproximadamente com 1%, incluem schwannomas de nervos cranianos (exceto nervo craniano VIII), cistos aracnóides, lipoma, glomus jugulare e lesões metastáticas entre outros.
  
== '''Como é feita a Monitorização Neurofisiológica Intra-Operatória?''' ==
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Os sinais e sintomas dos SVs, meningioma e tumores epidermóides são inespecíficos, sendo os mais comuns: perda auditiva neurossensorial, zumbido e tontura. Na maioria, são tumores benignos de crescimento lento com baixo potencial de malignidade (~1%).
  
  
As escolha das técnicas que precisam ser utilizadas dependem de um planejamento levando em conta o tipo de cirurgia que será realizada, analisando riscos e possíveis complicações relacionadas ao procedimento cirúrgico. Os eletrodos são colocados antes do início da cirurgia, mas após a anestesia, de forma a proporcionar maior conforto ao paciente, e são retirados antes que o paciente acorde. Estes eletrodos possibilitam estímulos e registros importantes para a Monitorização, e são realizados antes do início da cirurgia (para efeito de comparação com os registros subsequentes) e continuamente durante todo o procedimento. Qualquer mudança nas respostas é analisada pelo Neurofisiologista Clínico e informada ao cirurgião, para que as medidas necessárias sejam instituídas.
 
  
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O ângulo ponto-cerebelar (APC) é um espaço latente, de formato irregular, localizado na fossa posterior cerebral, delimitado anteriormente pela superfície posterior do osso temporal e posteriormente pela superfície anterior do cerebelo. Medialmente, tem como limite a oliva inferior e superiormente, a borda inferior da ponte e do pedúnculo cerebelar e seu limite inferior é constituído pela tonsila cerebelar, local que abriga os nervos cranianos V, VI, VII e VIII, junto com a artéria cerebelar inferior anterior.
  
== '''Evidências sobre a eficácia e segurança da tecnologia:''' ==
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O APC é uma área vital para o tecido neurológico: tumores que crescem nessa região podem ter um impacto significativo na função sensorial e motora, devido à sua proximidade com os nervos cranianos e áreas cerebrais importantes para a audição, equilíbrio e coordenação dos movimentos oculares.
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Diferentes técnicas de monitoramento neurofisiológico intraoperatório avaliam a função do cérebro, tronco cerebral, medula espinhal, nervos cranianos e nervos periféricos durante o procedimento. Essa monitorização tem como objetivos a detecção e prevenção de insultos neurológicos. Não foram localizados ensaios clínicos randomizados avaliando esta tecnologia em cirurgias para
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O tratamento dos tumores de ângulo pontocerebelar (TAPCs) consiste na ressecção cirúrgica. Este procedimento deve possibilitar a máxima ressecção do tumor, com a melhor preservação funcional. O acompanhamento neurofisiológico e a Monitorização intraoperatória neurofisiológica (MION) são técnicas que podem ser eficazes para prevenção de dano neurológico e preservação funcional.
tumores intracranianos.
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Em um estudo observacional, coorte retrospectiva, que incluiu 856 pacientes com glioma submetidos à ressecção do tumor, foram avaliados resultados funcionais e de sobrevida em longo prazo de pacientes após o uso de monitoramento neurofisiológico intraoperatório. O desfecho primário medido foi a sobrevida global (SG), e o desfecho secundário medido foi a taxa de déficits neurológicos tardios. Os pacientes foram divididos em duas coortes:
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Identificar insultos neurais intraoperatórios que permitam uma intervenção precoce para eliminar ou minimizar significativamente danos irreversíveis à estrutura neurológica e prevenir um déficit neurológico pós-operatório é o objetivo da MION.
submetidos a monitorização (n=439) e não submetidos a monitorização (n=417), sendo que as características destes dois grupos foram bem equilibradas no início do estudo. Após análise multivariada a monitorização foi associada a maior sobrevida global no grupo que realizou monitorização (OR ajustado 0,77; IC95% 0,60 a 0,99; P=0,04). Além disso, o grupo monitorizado mostrou uma taxa mais baixa de déficits neurológicos com menor chance de
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disfunção neurológica tardia (OR ajustado 0,58; IC95% 035 a 0,97; P=0,039). Em um outro cenário clínico, clipagem de aneurisma cerebral, esta técnica foi avaliada em uma revisão sistemática com metanálise. Foram selecionados e incluídos quatro estudos (incluindo 873 pacientes). Novamente, os pacientes submetidos a monitorização apresentaram menor chance de déficit neurológico novo do que aqueles operados sem a monitorização
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A MION refere-se ao uso intraoperatório de estimulações neurofisiológicas para a avaliação funcional de redes neurais e monitoramento da integridade neural durante a cirurgia. Representa um método de identificação e monitoramento em tempo real de avaliação da integridade funcional da medula espinhal e das raízes nervosas, envolvendo a identificação de estruturas neurais específicas a fim de evitar ou minimizar lesões. Através da aquisição contínua de sinais neurais, determina a integridade do caminho longitudinal do sistema neural de interesse.
(P=0,04), com a tendência de este achado se manter em longo prazo (P=0,05). Uma segunda revisão sistemática avaliou a monitorização em pacientes com glioma de alto grau (um tumor maligno do sistema nervoso central). A revisão de 2.049 artigos levou à inclusão de 53 estudos na análise, incluindo 9.102 pacientes. A mediana de sobrevida global após a cirurgia no grupo monitorizado foi significativamente maior (16,8 versus 12,0 meses; P<0,001) e a taxa de complicações foi significativamente menor (13 versus 21%; P<0,001). Além disso, a porcentagem de pacientes nos quais foi possível uma ressecção mais ampla foi maior no grupo monitorizado: 79,1% versus 47,7%, P<0,0001).
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O objetivo da MION é, portanto, a detecção precoce de danos nervosos intraoperatórios ou a localização precisa dos principais nervos suscetíveis a danos intraoperatórios, minimizando assim o risco de déficits neurológicos pós-operatórios. Os tipos de testes neurofisiológicos incluem potenciais evocados motores (PEM), para monitorar as vias motoras descendentes, potenciais evocados somatossensoriais (PESS), para vias sensoriais ascendentes, potenciais evocados auditivos cerebrais, potenciais evocados visuais (PEV), eletroencefalografia (EEG), para registrar a atividade elétrica cerebral, e eletroneuromiografia (ENMG), para monitorar sistemas neuromusculares periféricos. <ref>[https://www.gov.br/conitec/pt-br/midias/relatorios/2024/monitorizacao-intraoperatoria-neurofisiologica-para-pacientes-com-tumor-cerebelopontino-submetidos-a-cirurgia-de-exerese-tumoral-com-alto-risco-de-sequelas-neurologicas Monitorização Intraoperatória Neurofisiológica para pacientes com tumor cerebelopontino submetidos à cirurgia de exérese tumoral com alto risco de sequelas neurológicas]</ref>
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== '''A Monitorização Intraoperatória Neurofisiológica (MION)''' ==
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A MION é um exame diagnóstico que tem como finalidade identificar lesões no sistema nervoso durante cirurgias ortopédicas, neurocirúrgicas, vasculares e otológicas, evitando possíveis sequelas.
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Com o paciente sob anestesia geral, são colocados eletrodos que estimulam as vias neurológicas e registram potenciais, como por exemplo, os potenciais evocados (PE) motores (PEM), PE somatossensoriais (PESS), PE de tronco cerebral, eletroneuromiografia(ENMG) e eletroencefalograma (EEG). Essas respostas são interpretadas pelo médico neurofisiologista e reportadas à equipe cirúrgica.
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Sendo assim, a principal aplicação da MION é permitir a distinção intraoperatória entre tecido tumoral e tecido sadio, permitindo estabelecer a área de segurança da ressecção do tumor a ser retirada, sendo muito utilizada para mitigar os riscos de sequelas neurológicas.
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Algumas técnicas de MION utilizam equipamentos diferentes; porém, já existem aparelhos compatíveis com eletrodos e um software específico que combina diferentes técnicas, podendo utilizar qualquer técnica de estimulação de tecidos simultaneamente. Quando há combinação de mais de uma técnica de MION essa monitorização é chamada de MION multimodal (MIONMm).  
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A MION requer uma série de etapas para ser implementada em hospitais, como a avaliação da infraestrutura, incluindo energia elétrica, espaço adequado e cuidados referentes ao ambiente eletromagnético, treinamento de equipe, além da verificação e validação da integração com outros sistemas hospitalares, como prontuários e arquivos de imagens.
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Qualquer variação do sinal na MION basal durante a cirurgia indica uma lesão neural e prediz o desenvolvimento de déficits neurológicos pós-operatórios.  
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Da mesma forma, os insumos como agulhas e eletrodos de estimulação são descartáveis, e a utilização do aparelho requer um neurofisiologista treinado e capacitado.
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Vários fatores, incluindo agentes anestésicos, pressão arterial, temperatura corporal, oxigenação, hipocapnia, compressão mecânica, redução do suprimento sanguíneo e qualquer problema técnico, podem afetar o sinal da MION. A sua utilização requer técnicas anestésicas específicas para evitar interferências e alterações de sinal. Dessa forma, não é recomendado que o neurocirurgião ou o anestesista apliquem a MION concomitantemente ao ato cirúrgico ou anestésico, sendo recomendado a presença de um médico neurofisiologista.
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== '''Monitorização Intraoperatória Neurofisiológica no Sistema Único de Saúde:''' ==
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O procedimento '''não é padronizado no SUS para todos os procedimentos cirúrgicos''' onde o monitoramento poderia ser indicado.
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Na 127ª Reunião Ordinária da '''Conitec''', realizada em 08 de março de '''2024''', os membros presentes no Comitê de Produtos e Procedimentos deliberaram, por unanimidade, '''recomendar a incorporação da monitorização intraoperatória neurofisiológica para pacientes com tumor cerebelopontino submetidos à cirurgia de exérese tumoral com alto risco de sequelas neurológicas.''' Após os esclarecimentos feitos pelas especialistas e a apresentação das contribuições de consulta pública, o Comitê entendeu que existe uma necessidade médica não
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atendida, considerou que MION é uma técnica eficaz e segura e apresenta benefícios clínicos claros à população de interesse. Apesar de o impacto orçamentário ter sido considerado elevado, esses custos foram considerados superestimados devido às limitações no levantamento dos custos para a análise. Foi assinado o Registro de Deliberação nº 884/2024.
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A PORTARIA SECTICS/MS Nº 15, DE 18 DE ABRIL DE 2024 torna pública esta decisão. <ref>[https://www.gov.br/conitec/pt-br/midias/relatorios/portaria/2024/portaria-sectics-ms-no-15-de-18-de-abril-de-2024 PORTARIA SECTICS/MS Nº 15, DE 18 DE ABRIL DE 2024]</ref>
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Na Tabela do SIGTAP, por enquanto estão codificados 2 procedimentos que incluem a monitorização intra-operatória:
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04.03.06.003-6 - MICROCIRURGIA PARA LESIONECTOMIA COM MONITORAMENTO INTRAOPERATORIO: PROCEDIMENTO NEUROMICROCIRURGICO COM MONITORAMENTO INTRA-OPERATORIO POR MEIO DE ELETRODOS CEREBRAIS PARA A RETIRADA DE LESÃO CAUSAL DE EPILEPSIA CLINICAMENTE INTRATÁVEL.
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04.03.06.007-9 - MICROCIRURGIA PARA RESSECÇÃO UNILOBAR EXTRATEMPORAL COM MONITORAMENTO INTRAOPERATORIO: PROCEDIMENTO NEUROMICROCIRURGICO COM MONITORAMENTO INTRA-OPERATORIO POR MEIO DE ELETRODOS CEREBRAIS PARA RESSECÇÃO DE UM LOBO NÃO TEMPORAL COM VISTAS AO CONTROLE DE EPILEPSIA CLINICAMENTE INTRATÁVEL.
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==Referências Bibliográficas ==

Edição atual tal como às 20h01min de 8 de julho de 2025

Introdução

Os tumores cerebrais se referem a uma coleção diversificada de neoplasias originárias de diferentes conjuntos de células do próprio cérebro (tumores primários), embora também possam ser oriundos de metástases de outros tumores sistêmicos.

Os tumores cerebrais primários incluem vários tipos histológicos diferentes, com características macroscópicas e moleculares variadas, e são classificados com base em uma lista de tumores do sistema nervoso central (SNC) definida pela Organização Mundial da Saúde.

Entre 5 e 10% de todos os tumores intracranianos estão localizados no ângulo ponto-cerebelar (APC). Os tumores de ângulo pontocerebelar (TAPC) mais comuns são Schwannoma vestibular (SV), meningioma e tumores epidermoides.

O SV é responsável por 75 a 85% de todos os tumores; os meningiomas representam até 10 a 15%, enquanto os epidermoides representam 7 a 8% de todos os tumores. Outros tumores menos comuns, que contribuem aproximadamente com 1%, incluem schwannomas de nervos cranianos (exceto nervo craniano VIII), cistos aracnóides, lipoma, glomus jugulare e lesões metastáticas entre outros.

Os sinais e sintomas dos SVs, meningioma e tumores epidermóides são inespecíficos, sendo os mais comuns: perda auditiva neurossensorial, zumbido e tontura. Na maioria, são tumores benignos de crescimento lento com baixo potencial de malignidade (~1%).


O ângulo ponto-cerebelar (APC) é um espaço latente, de formato irregular, localizado na fossa posterior cerebral, delimitado anteriormente pela superfície posterior do osso temporal e posteriormente pela superfície anterior do cerebelo. Medialmente, tem como limite a oliva inferior e superiormente, a borda inferior da ponte e do pedúnculo cerebelar e seu limite inferior é constituído pela tonsila cerebelar, local que abriga os nervos cranianos V, VI, VII e VIII, junto com a artéria cerebelar inferior anterior.

O APC é uma área vital para o tecido neurológico: tumores que crescem nessa região podem ter um impacto significativo na função sensorial e motora, devido à sua proximidade com os nervos cranianos e áreas cerebrais importantes para a audição, equilíbrio e coordenação dos movimentos oculares.

O tratamento dos tumores de ângulo pontocerebelar (TAPCs) consiste na ressecção cirúrgica. Este procedimento deve possibilitar a máxima ressecção do tumor, com a melhor preservação funcional. O acompanhamento neurofisiológico e a Monitorização intraoperatória neurofisiológica (MION) são técnicas que podem ser eficazes para prevenção de dano neurológico e preservação funcional.

Identificar insultos neurais intraoperatórios que permitam uma intervenção precoce para eliminar ou minimizar significativamente danos irreversíveis à estrutura neurológica e prevenir um déficit neurológico pós-operatório é o objetivo da MION.

A MION refere-se ao uso intraoperatório de estimulações neurofisiológicas para a avaliação funcional de redes neurais e monitoramento da integridade neural durante a cirurgia. Representa um método de identificação e monitoramento em tempo real de avaliação da integridade funcional da medula espinhal e das raízes nervosas, envolvendo a identificação de estruturas neurais específicas a fim de evitar ou minimizar lesões. Através da aquisição contínua de sinais neurais, determina a integridade do caminho longitudinal do sistema neural de interesse.

O objetivo da MION é, portanto, a detecção precoce de danos nervosos intraoperatórios ou a localização precisa dos principais nervos suscetíveis a danos intraoperatórios, minimizando assim o risco de déficits neurológicos pós-operatórios. Os tipos de testes neurofisiológicos incluem potenciais evocados motores (PEM), para monitorar as vias motoras descendentes, potenciais evocados somatossensoriais (PESS), para vias sensoriais ascendentes, potenciais evocados auditivos cerebrais, potenciais evocados visuais (PEV), eletroencefalografia (EEG), para registrar a atividade elétrica cerebral, e eletroneuromiografia (ENMG), para monitorar sistemas neuromusculares periféricos. [1]

A Monitorização Intraoperatória Neurofisiológica (MION)

A MION é um exame diagnóstico que tem como finalidade identificar lesões no sistema nervoso durante cirurgias ortopédicas, neurocirúrgicas, vasculares e otológicas, evitando possíveis sequelas.

Com o paciente sob anestesia geral, são colocados eletrodos que estimulam as vias neurológicas e registram potenciais, como por exemplo, os potenciais evocados (PE) motores (PEM), PE somatossensoriais (PESS), PE de tronco cerebral, eletroneuromiografia(ENMG) e eletroencefalograma (EEG). Essas respostas são interpretadas pelo médico neurofisiologista e reportadas à equipe cirúrgica.

Sendo assim, a principal aplicação da MION é permitir a distinção intraoperatória entre tecido tumoral e tecido sadio, permitindo estabelecer a área de segurança da ressecção do tumor a ser retirada, sendo muito utilizada para mitigar os riscos de sequelas neurológicas.

Algumas técnicas de MION utilizam equipamentos diferentes; porém, já existem aparelhos compatíveis com eletrodos e um software específico que combina diferentes técnicas, podendo utilizar qualquer técnica de estimulação de tecidos simultaneamente. Quando há combinação de mais de uma técnica de MION essa monitorização é chamada de MION multimodal (MIONMm).

A MION requer uma série de etapas para ser implementada em hospitais, como a avaliação da infraestrutura, incluindo energia elétrica, espaço adequado e cuidados referentes ao ambiente eletromagnético, treinamento de equipe, além da verificação e validação da integração com outros sistemas hospitalares, como prontuários e arquivos de imagens.

Qualquer variação do sinal na MION basal durante a cirurgia indica uma lesão neural e prediz o desenvolvimento de déficits neurológicos pós-operatórios.

Da mesma forma, os insumos como agulhas e eletrodos de estimulação são descartáveis, e a utilização do aparelho requer um neurofisiologista treinado e capacitado.

Vários fatores, incluindo agentes anestésicos, pressão arterial, temperatura corporal, oxigenação, hipocapnia, compressão mecânica, redução do suprimento sanguíneo e qualquer problema técnico, podem afetar o sinal da MION. A sua utilização requer técnicas anestésicas específicas para evitar interferências e alterações de sinal. Dessa forma, não é recomendado que o neurocirurgião ou o anestesista apliquem a MION concomitantemente ao ato cirúrgico ou anestésico, sendo recomendado a presença de um médico neurofisiologista.

Monitorização Intraoperatória Neurofisiológica no Sistema Único de Saúde:

O procedimento não é padronizado no SUS para todos os procedimentos cirúrgicos onde o monitoramento poderia ser indicado.

Na 127ª Reunião Ordinária da Conitec, realizada em 08 de março de 2024, os membros presentes no Comitê de Produtos e Procedimentos deliberaram, por unanimidade, recomendar a incorporação da monitorização intraoperatória neurofisiológica para pacientes com tumor cerebelopontino submetidos à cirurgia de exérese tumoral com alto risco de sequelas neurológicas. Após os esclarecimentos feitos pelas especialistas e a apresentação das contribuições de consulta pública, o Comitê entendeu que existe uma necessidade médica não atendida, considerou que MION é uma técnica eficaz e segura e apresenta benefícios clínicos claros à população de interesse. Apesar de o impacto orçamentário ter sido considerado elevado, esses custos foram considerados superestimados devido às limitações no levantamento dos custos para a análise. Foi assinado o Registro de Deliberação nº 884/2024.

A PORTARIA SECTICS/MS Nº 15, DE 18 DE ABRIL DE 2024 torna pública esta decisão. [2]

Na Tabela do SIGTAP, por enquanto estão codificados 2 procedimentos que incluem a monitorização intra-operatória:

04.03.06.003-6 - MICROCIRURGIA PARA LESIONECTOMIA COM MONITORAMENTO INTRAOPERATORIO: PROCEDIMENTO NEUROMICROCIRURGICO COM MONITORAMENTO INTRA-OPERATORIO POR MEIO DE ELETRODOS CEREBRAIS PARA A RETIRADA DE LESÃO CAUSAL DE EPILEPSIA CLINICAMENTE INTRATÁVEL.

04.03.06.007-9 - MICROCIRURGIA PARA RESSECÇÃO UNILOBAR EXTRATEMPORAL COM MONITORAMENTO INTRAOPERATORIO: PROCEDIMENTO NEUROMICROCIRURGICO COM MONITORAMENTO INTRA-OPERATORIO POR MEIO DE ELETRODOS CEREBRAIS PARA RESSECÇÃO DE UM LOBO NÃO TEMPORAL COM VISTAS AO CONTROLE DE EPILEPSIA CLINICAMENTE INTRATÁVEL.

Referências Bibliográficas

  1. Monitorização Intraoperatória Neurofisiológica para pacientes com tumor cerebelopontino submetidos à cirurgia de exérese tumoral com alto risco de sequelas neurológicas
  2. PORTARIA SECTICS/MS Nº 15, DE 18 DE ABRIL DE 2024