Alterações

Eletroconvulsoterapia

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Quantas sessões são necessárias?
A Eletroconvulsoterapia eletroconvulsoterapia (ECT)é definida como “uma estimulação elétrica o tratamento somático mais antigo dentre os ainda utilizados na prática psiquiátrica atual e também o mais controverso. A ECT se popularizou nos meados do cérebro com a finalidade de induzir uma crise convulsiva queséculo XX, após uma série entre as décadas de aplicações, resulta em uma melhoria dos sintomas”40 e 60.)<ref name="ECT">RIGONATTI SPNo entanto, ROSA MAjá entre os anos 60 e 80, ROSA MO (orgs.) ''Eletroconvulsoterapia''. São Paulo: Vetor; 2004.</ref>. Outra definição diz ser uma “técnica, em desusoo uso da ECT encontrou resistência, que consiste na passagem deixando de ser uma corrente elétrica de alta voltagem sobre a região temporal, a fim de provocar dessincronização traumática de atividade cerebral do paciente com contrações crônicas opção terapêutica para muitos psiquiatras e perda da consciência, usada como terapia em casos serviços de problemas mentais graves; eletrochoque; choque”. Do ponto de vista técnicopsiquiatria, que viam o seu uso para o tratamento método como sinônimo de transtornos mentais pode ser caracterizado como um procedimento invasivo e agressivo para o organismo, com efeitos colaterais severos para o paciente, não resultando na recuperação da saúde integral da pessoa, mas provocando efeitos que aplacam sintomas uma prática psiquiátrica manicomial ou como alucinações e agressividademecanismo punitivo.
==Histórico==A ECT é, e sempre foi, a longo O mecanismo de toda a história ação da Psiquiatria, um tratamento eletivo e coadjuvante, feito como uma '''tentativa''' heróica de melhorar um quadro de loucura circular ou maníaco-depressiva. Ela '''ECT ainda não tem propriedades curativas'''é totalmente esclarecido. Apenas pode amenizar sintomas temporariamente, em algumas situaçõesAté a atualidade, para algumas pessoas. “Pode amenizar” não significa que “vai amenizar”: não há certeza sobre os resultados. Aliás, se fosse um tratamento tão usável inúmeros avanços técnicos e tão bom, não se receitaria, hoje em dia, tantos antidepressivos, tantos neurolépticos e tantos estabilizadores do humor. <br> Quando se descobriu, na Itália dos anos 30, que o choque poderia amenizar, em algumas pessoas, os sintomascientíficos foram incorporados ao procedimento da ECT, ele passou a ser promovido como política de saúde pelo governo fascista de Mussolini. Também o governo de Joseph Stalinuso da anestesia, na União Soviéticados bloqueadores neuromusculares, adotou-o como política de saúde. Observou-se, então grande número de mortes de pacientes durante a aplicação do tratamentoaplicações unilaterais e medicações coadjuvantes, assim como fraturas de ossos (durante a convulsão que aumentam o choque causava) e efeitos colaterais sobre a memória conforto e a orientação. <br>A Associação Mundial de Psiquiatria (World Psychiatric Association - WPA) passou a criticar o uso indiscriminado bem estar do perigoso e pouco científico tratamento, na forma como era aplicado, no contexto das políticas de saúde dos países que se inspiraram na Itália Fascista e na União Soviética. O VI Congresso Mundial de Psiquiatria culminou com o desligamento da psiquiatria soviética da World Psychiatric Association (WPA) devido ao uso abusivo da eletroconvulsoterapia pelos médicos soviéticos, eventualmente até para desestimular dissidentes políticos. Naquele Congresso foi proclamada a Declaração do Hawai que consiste em normas éticas para os psiquiatraspaciente.<refname="ECT">KINGDON D, JONES R, LONNQVIST J. ''Protecting the human rights of people with mental disorder: new recommendations emerging from the Council of Europe''. BRITISH JOURNAL OF PSYCHIATRY, Volume: 185 Pages: 277-279 DOI: 10.1192/bjp.185.4.277 Published: OCT 2004. Resumo disponível em: <http[https://bjpdiretrizes.rcpsychamb.org.br/contentpsiquiatria/185/4/277.short>.<eletroconvulsoterapia-2/ref><br>No Brasil, a Conferência Nacional de Saúde Mental é uma parte especializada que compõe a '''Conferência Nacional de Saúde''', órgão máximo de controle social da saúde, instituído nos termos da Lei Nº 8.142 de 28 de dezembro de 1990. Em Brasília, a deliberação nº 26, da III Conferência Nacional de Saúde Mental, de 2001, recomendou, para as direções das políticas de saúde mental no Brasil, para os anos seguintes, abolir o eletro-choque, comparando-o a “prática de suplício e de desrespeito aos direitos humanosEletroconvulsoterapia. Na mesma épocaProjeto Diretrizes, diversas moções de repúdio à utilização da eletroconvulsoterapia AMB (ECT2016) ao Congresso e ao governo '''determinaram a abolição do eletro-choque nos cuidados da saúde mental, no SUS'''.]<br/ref>A influência desta corrente contrária ao uso da eletroconvulsoterapia foi forte sobre o Ministério da Saúde: até hoje o Ministério não aprova o tratamento e não tem tabela, no SUS, para pagá-lo, para evitar os riscos de ser processado por violação de direitos humanos.
==Evidências científicas==Hoje em dia há vários estudos e vários debates sobre a liberalização do uso, sob regras rígidas. Um dos estudos científicos mais respeitados sobre o tema, no Brasil, afirma: <ref>SOARES MBM, MORENO RA, MORENO DH. ''Electroconvulsive therapy in treatment-resistant mania: case reports''. Rev. Hosp. Clin. [online]. 2002, vol.57, n.1, pp. 31-38. ISSN 0041-8781. doi: 10.1590/S0041-87812002000100006.</ref> {| | style="width: 50%;"| | style="width: 50%;"| CONCLUSÕES: Os resultados iniciais sugerem Por que a eficácia da Eletroconvulsoterapia no tratamento de pacientes bipolares resistentes '''deve ser melhor estudada'''. [sem grifo no original]|}<br>O livro texto especializado, de Sérgio Paulo Rigonatti et all. (2004), no segundo capítulo, didaticamente, discute o mecanismo de ação da eletroconvulsoterapia, dizendo que:<ref nameé feita="ECT"/><br> {| | style="width: 50%;"| | style="width: 50%;"|"embora '''não seja ainda completamente conhecido''', há teorias importantes relacionadas ao assunto, sendo as três principais: a teoria clássica dos neurotransmissores, a neuroendócrina e a anticonvulsiva. Esta última afirma que o efeito antidepressivo da A ECT está relacionado ao fato do seu profundo efeito anticonvulsivante no cérebro". [sem grifo no original]|}<br>No terceiro capítulo, os autores desmistificam a técnica e discutem os prós e contras enfatizando a necessidade de ligação da psiquiatria com as outras especialidades médicas, especialmente a cardiologia.<br>De fato, hoje, seguindo protocolos rígidos, selecionando muito bem os pacientes, o número de mortes durante a aplicação do tratamento – pode proporcionar melhorias rápidas e por efeito dele – caiu muito: a taxa significativas nos sintomas graves de mortalidade associada ao tratamento é algumas condições de um em cada cem mil casos tratados<ref>SALLEH MAsaúde mental, et al. ''Eletroconvulsoterapia: critérios e recomendações da Associação Mundial de Psiquiatria.'' Rev. psiquiatr. clín., São Paulo, v. 33, n. 5, 2006 . Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-60832006000500006&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em 06 dez. 2010. doicomo: 10.1590/S0101-60832006000500006.</ref>. Alguém que não faça o tratamento, portanto, não correrá este risco.<br>Hoje em dia, no Brasil, o Conselho Federal de Medicina tolera a eletroconvulsoterapia, como tratamento eletivo, porém apenas dentro de técnicas modernas, com anestesia e sedação prévias, com todos os controles necessários e exigidos pela Resolução CFM 1640/02 e consentimento livre informado assinado pelo paciente, ou por responsável legal, em caso de incapacidade de compreensão e deliberação.
*'''Depressão grave''' (uni ou bipolar), particularmente quando acompanhada de desapego da realidade (psicose), desejo de cometer suicídio ou recusa de comer.*'''Esquizofrenia refratária''', que não melhora com medicamentos ou outros tratamentos.* '''Quadros esquizoafetivos'''.*'''Mania'''.*'''Doença de Parkinson'''.*'''Síndrome Neuroléptica Maligna'''. Situações clínicas especiais como pacientes idosos, portadores de comorbidades, crianças e pacientes grávidas, muitas vezes têm na ECT a sua única oportunidade de tratamento 18,19 (D). A refratariedade ou a presença de eventos adversos decorrentes dos psicofármacos constituem-se em fortes argumentos para a indicação da ECT.<ref name="ECT"/> ==Transtorno depressivo Riscos/Contraindicações==Embora a ECT==seja geralmente segura, os riscos e efeitos colaterais podem incluir:O transtorno depressivo é uma doença *'''crônicaAlterações somáticas''', causada por fatores genéticoscomo dor de cabeça, que se manifesta por episódios ora depressivos (melancólicos náusea e apáticos)vômitos, ora maníacos (eufóricos e hiperativos), intercalados por fases sem sintomasmas também são observadas arritmias cardíacas. Este *'''curso natural da doença é vitalícioAlterações cognitivas''', como confusão e ''delirium''. O paciente portador deste tipo A diminuição da memória anterógrada também é um evento adverso de doença não tem curacurto prazo, mas que tende a melhorar depois de alguns dias ou poucas semanas. O efeito colateral em longo prazo da ECT mais frequente e que pode ter mais longa duração é a doença controladaamnésia retrógrada, inclusive com relatos de pacientes com lapsos mnêmicos de eventos passados que não remitiram. A ECT não possui contraindicações absolutas e seu risco não é maior que o de uma anestesia geral. Um médico especialista deve ser consultado para que o risco da ECT seja minimizado em alguns casos como: arritmias, hipertensão arterial severa, insuficiência cardíaca congestiva, grandes aneurismas, diabete insulino-dependente, tumores cerebrais, traumatismo crânio encefálico, acidente vascular cerebral, epilepsia, malformações cerebrovasculares e glaucoma de angulo fechado. <brref name="ECT"/>Ao tempo em que apenas se tratava as pessoas com ==ECT funciona?==A eficácia da ECTno tratamento de doenças mentais graves é reconhecida pela Associação Americana de Psiquiatria, pela Associação Médica Americana, pelo Instituto Nacional de Saúde Mental e por não terem ainda inventado remédiosorganizações semelhantes no Canadá, os resultados eram pequenosna Grã-Bretanha e em muitos outros países. Embora a ECT possa ser muito eficaz para muitos indivíduos com doença mental grave, paliativosnão é uma cura. Para evitar o retorno da doença, temporários e decepcionantes. Com a descoberta maioria das propriedades farmacológicas, nos anos 50 pessoas tratadas com ECT precisa continuar com algum tipo de tratamento de manutenção. Isso normalmente significa psicoterapia e 60/ ou medicação ou, dos antidepressivosem algumas circunstâncias, dos neurolépticos e dos estabilizadores tratamentos contínuos de humor os resultados foram surpreendentesECT.<ref name="PSY">[https://www.psychiatry.org/patients-families/ect What is Electroconvulsive therapy (ECT)?].</ref>. Contudo Hoje em dia, no Brasil, o remédio precisa ser tomado Conselho Federal de Medicina tolera a eletroconvulsoterapia, como tratamento eletivo, porém apenas dentro de técnicas modernas, com anestesia e sedação prévias, com regularidade todos os controles necessários e a dose precisa ser ajustada seguidamenteexigidos pela Resolução CFM 1640/02 e consentimento livre informado assinado pelo paciente, ou por responsável legal, através em caso de exames incapacidade de dosagem daquele fármaco no sangue, semestraiscompreensão e deliberação.<ref name="CFM">[http://www.portalmedico.org.br/resolucoes/cfm/2002/1640_2002.htm RESOLUÇÃO CFM Nº 1.640/2002].</ref> . ==Quantas sessões são necessárias?==A resposta clínica é o principal referencial para a decisão dos números de sessões. Algumas pessoasA experiência clínica sugere uma variação de 6 a 12 sessões, em função de características mas esses números devem servir apenas como referenciais gerais. Além da personalidade ou resposta clínica, os efeitos colaterais cognitivos, por serem cumulativos, também ajudarão na decisão de características interromper o tratamento. Quando estes são muito intensos, isso pode sugerir que se atingiu um limite. A prática de continuar o tratamento após a doença adquiriu remissão (por particularidades de seu organismoexemplo, duas sessões a mais) não têm melhoras significativas durante parece ter fundamentação científica.A associação Médica Brasileira (AMB) recomenda que a resposta clínica e os episódios tratadosefeitos colaterais cognitivos deverão guiar a decisão de continuar o tratamento ou suspendê-lo. Em caso de remissão ou platô de resposta (melhora parcial mantida por uma semana) ou quando haja prejuízo cognitivo óbvio (amnésia grave ou estado confusional) o tratamento deverá ser interrompido. == Que profissionais devem aplicar a ECT?==A ECT é um ato médico e a equipe para sua realização deve contar com a participação de um psiquiatra, sendo classificados como refratários a tratamentosum anestesista e ao menos duas enfermeiras. Pareceres de outras especialidades médicas podem ser necessários de acordo com cada caso.
==ECT no SUS==
A ECT não tem protocolos clínicos e nem diretrizes terapêuticas aprovadas no âmbito do SUS. Não consta na relação de medicamentos instituída pelo Ministério da Saúde, que é o gestor federal. Tampouco consta na lista oficial de ações e procedimentos de saúde, a RENASES.<br>
Algumas universidades, em ambiente acadêmico, aplicam tal procedimento em pacientes do SUS, enquanto '''tratamento experimental''', como é o caso na Escola Paulista de Medicina e na USP, em São Paulo. Naqueles casos o paciente concorda em participar como sujeito de pesquisa, assumindo riscos inerentes ao tratamento experimental. <br>No SUS, como regra, fora do ambiente acadêmico de investigação visando produzir conhecimentos, não há possibilidade legal de se aplicar procedimentos experimentais. Diz a mesma Lei 12.401/11: {| | style="width: 50%;"| | style="width: 50%;"|Art. 19-T. São vedados, em todas as esferas de gestão do SUS: <br>I - o pagamento, o ressarcimento ou o reembolso de medicamento, produto e procedimento clínico ou cirúrgico '''experimental''', ou de uso não autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. [sem grifos no original]|}<br>Comprovando-se, futuramente, a eficácia, a eficiência, a efetividade e a segurança do procedimento, assim como formas de trabalhar com ECT através de protocolo reconhecido e aprovado, sob diretrizes acatáveis nos serviços, ele poderá vir a ser considerado tecnologia incorporável pelo SUS. A incorporação tem um rito legal, devendo as provas científicas comporem processo na Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (CONITEC). <br>O Decreto 7.646, de 21 de dezembro de 2011, dispõe sobre a CONITEC e sobre o processo administrativo para incorporação, exclusão e alteração de tecnologias em saúde pelo Sistema Único de Saúde - SUS, e dá outras providências. Os interessados em sua incorporação poderão montar processo apresentando à CONITEC novas evidências científicas, caso venham a existir.
==Procedimento Eletivo ou de Urgência/Emergência?==
==Referências==
Estas informações foram organizadas a partir de parecer do Prof. Dr. Alan Índio Serrano, Médico Psiquiatra, da Comissão Médica Estadual de Regulação.
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